sábado, 24 de abril de 2010

O CASAMENTO ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO E A INDIGNAÇÃO ON-LINE DE UM CATÓLICO

Li hoje um comentário on-line no DN, contra o casamento homossexual. Nele o autor, que apenas se assinava anónimo, apelava ao PR que vetasse o diploma por considerar os homossexuais pessoas doentes, e este ser um país maioritariamente católico, e esse assunto não ter sido debatido com no debate televisivo entre José Sócrates e a então líder do principal partido da oposição, Manuela Ferreira Leite. Segundo o autor do tal comentário, se o Engº Sócrates tivesse discutido este assunto com MFL nunca teria ganho as eleições.
Não sou homossexual mas não entendo porque é que tanta gente se indigna contra o casamento homo, em nome das suas crendices religiosas, que afinal segundo eles até nos mandar amar uns aos outros. Não assisti ao debate televisivo com a Drª Ferreira Leite pelo que não sei se este assunto foi ou não discutido com ela Mas o autor é mentiroso como o são quase todos os cristãos pois apesar de infelizmente este ser um país maioritariamente católico, e essa até ser uma das razões porque permanecemos na cauda da Europa o 1º Ministro prometeu, na última campanha eleitoral, legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo e mesmo assim ganhou as eleições. Aliás, o 1º Ministro, na legislatura anterior, inviabilizara a aprovação de uma proposta do BE nesse sentido, que contava com o apoio de deputados do seu partido, e com o apoio da CDU, com o argumento que tal proposta, sendo considerada fracturante, não tinha feito parte das promessas eleitorais do PS. Mas prometeu fazê-lo então na legislatura seguinte se voltasse a vencer as eleições como aconteceu. A aprovação do casamento homossexual é assim uma das promessas que o 1º Ministro faz bem em cumprir, apesar de não ter cumprido outras. Inversamente, o PR nunca na sua campanha eleitoral falou alguma vez que se oporia à aprovação do casamento homossexual, pelo que se vetar a lei, estará a desrespeitar a vontade, de quem votando no PS e nas forças à sua esquerda, que são neste momento a maioria da Assembleia, sabia estar a votar a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Afinal de contas, apesar de o PR ser um católico conservador, já assinou a lei do aborto. E prometera fazê-lo na campanha eleitoral se o aborto viesse a ser sufragado pela população em referendo, como aconteceu, sem que nenhuma organização católica se mostrasse indignada com tal promessa. Compreende-se. Os mesmos cristãos tão zelosos em defender os valores da família tradicional, alicerçada em redor da imagem do Pater Famílias qual Deus Pai Todo Poderoso, são os mesmos que tomam a pílula do dia anterior ou do dia seguinte, que dão facadinhas no matrimónio, e que quando o preservativo rompe e o imprevisto acontece, recorrem ao aborto apesar da sentença e excomunhão que pelos vistos só serve para assustar os espíritos mais mal formados. Agora o casamento entre larilas e fufas? Credo! Valha-nos o bastardo e a maldita da sua mãe que emprenhou de uma pomba e o deve ter parido pelo olho do cu, pois não consta que nem depois do parto se lhe tenha rompido o hímen.

domingo, 21 de março de 2010

SER GENEROSO À CUSTA DOS OUTROS NÃO CUSTA NADA

Os portugueses que correram a marcar o nº de telefone que várias empresas operadoras de telecomunicações colocaram à disposição para recolha de fundos para com o Haiti e a Madeira (€0,60 por chamada que revertiam a favor daqueles territórios atingidos recentemente por cataclismos naturais), não estiveram só a manifestar a sua generosidade para com eles, mas também para com as finanças públicas. Esta semana os órgãos de comunicação nacional fizeram o balanço ao IVA arrecadado pelo fisco por cada chamada efectuada.20% de IVa por chamada efectuada. Em números redondos € 0,07 o que perfez vários milhões de euros. Quer-se dizer, não fosse o terramoto no Haiti que matou milhares de pessoas, e as inundações na Madeira que provocaram milhares de euros em prejuízos materiais, e largas centenas de famílias desalojadas, e a receita do IVA este ano seria substancialmente menor. Quer-se dizer ainda, e para parafrasear livremente Bertold Brecht, se mais meia dúzia de catástrofes naturais ocorrerem daqui até ao fecho da legislatura, e talvez o Governo tenha encontrado a solução para combater o défice público, e para a saída da crise, que de outra maneira não chegará tão depressa.
Ora sendo os portugueses tão generosos a marcar números de solidariedade, se as próprias empresas que os instalaram os fizeram gratuitamente apesar do dispêndio de meios técnicos envolvidos, não seria legitimo esperar-se que os números telefónicos de solidariedade estivessem isentos de IVA, ou se isso for de todo impossível, que fossem ao menos taxados com a taxa mínima, 5%? E se por norma comunitária, não fosse possível isentar do mesmo valor de IVA que as restantes as comunicações telefónicas, não seria de mais exigir-se que todo o valor total do IVA arrecadado naquelas chamadas fosse integralmente revertido a favor dos territórios para que aqueles números foram criados? Afinal era essa a intenção dos portugueses que para eles ligaram, para minorarem o défice das contas públicas, já basta a subida de impostos que por via das menores deduções fiscais em sede de IRS que nos impõe para 2010 o novo PEC, tão aplaudido pela alta finança que sustenta o Presidente Durão Barroso.
O Estado está assim também, a ganhar dinheiro com a desgraça dos outros. Julgo não ser esse o espírito que levou à criação de tais números telefónicos, nem é esse o espírito de quem solidariamente contribui, ainda que de uma forma simples, com algum do seu dinheiro para nestes tempos difíceis, minorar o sofrimento dos outros.
A cobrança de IVA em casos destes é não só uma imoralidade, mas sobretudo uma infâmia. Demonstra que os particulares podem, e devem ser solidários, mas que o Estado nunca o é.
Assim como o é, uma campanha desenvolvida por uma cadeia de hipermercados. Para contribuir para a Madeira basta arredondar o valor das suas compras, o que arredondou vai ser entregue para o auxílio à região. Mais uma vez é o cliente quem suporta na íntegra o preço da solidariedade, ainda que se calhar por via disso, e pelo tal espírito de generosidade dos portugueses, a tal cadeia de hipermercados tenha registado uma maior afluência de público às suas caixas do quer se não tivesse instituído tal campanha. Mas se de facto ela quer ser solidária para com a Madeira, em vez de pedir aos clientes que arredondem o preço das compras pagas, sem dar nada de seu para a Madeira, porque não se comprometeu antes a oferecer uma percentagem efectuada por cada carrinho de compras? Porque lhe mexia nos lucros, está claro.
Ser generoso, ou combater o défice, à custa dos outros não custa nada de facto. E se calhar, até fica bem. Talvez fosse interessante ver a tal cadeia de supermercados, informar quanto vendeu a mais à custa de tal ideia do arredondamento.

domingo, 7 de março de 2010

A SOLIDARIEDADE É SÓ PARA OS PARTICULARES

Tudo isto está bem, e as vítima agradecem mas tem um senão: os portugueses ligam o nº, oferecem €,60 por cada chamada efectuada, muitos como sabem que a quantia é irrisória até efectuam mais de uma chamada, mas de cada vez que o fazem desembolsam mais 20% de IVA que o fisco não lhes perdoa. Tratando-se de números telefónicos de solidariedade, cujo produto reverte a favor de uma obra social que no fundo alivia o Estado de algumas das suas responsabilidades (quantas mais receitas forem arrecadadas pelos particulares, menor será a contribuição do Estado no pagamento de subsídios a fundo perdido, e outros) pelo que parece-me ser de toda a justiça que neste tipo de comunicações não fosse cobrada a taxa do IVA.
Ao não abdicar da cobrança de tal imposto, o Estado está a dizer aos portugueses que não é só para com os males das vítimas da Madeira ou do Haiti, que os portugueses estão a contribuir. Estão tb. a contribuir para engrossar as receitas do fisco, mesmo à custa das vitimas da Madeira ou do Haiti. Quer dizer, quantas mais calamidades capazes de mobilizar solidariamente a sociedade civil acontecerem, mais de alívio respirarão os responsáveis das Finanças públicas, o que quanto mais não seja, do ponto de vista ético é perverso. Mas também o que o Estado está a demonstrar, é que não é solidário e que a solidariedade das causas é só do cidadão comum. O que também não é bonito.

A SOLIDARIEDADE É SÓ PARA OS PARTICULARES

Contrariamente aos nºs de valor acrescentado que existiam no passado, cujo preço por minuto arruinaram tantos portugueses que para eles ligavam estimulados com a promessa de sorteios de prémios monetários ou outras coisas do género mas que no fim do mês se viam confrontados com o aparecimento de contas telefónicas astronómicas, o preço das chamadas não é caro (€,60 por minuto)o que fez com que muitos portugueses generosamente aderissem a eles. As organizações de solidariedade graças a estas linhas que as empesas operadora de telecomunicações lhes puseram à disposição delas, arrecadaram assim largos milhares de euros que espera-se, sirvam efectivamente para minorar o sofrimento das vítimas do Haiti e da Madeira e não vão parar aos bolsos de quem anda no tereno com outras intenções.

A SOLIDARIEDADE É SÓ PARA OS PARTICULARES

Nas últimas semanas houve três cataclismos naturais, ainda que com graus de gravidade diferents. Primeiro foi o terramoto no Haite que fez milhars de mortos naquele que deve ser o país mais pobre do Mundo. Depois as inundações na Madeira cujo nº de vitima mortais não ascendeu a uma dúzia ainda que tenha deixado centenas ou talvez mesmo milhares de desalojados, e finalmente novo terramoto no Chile, que terá provocado perto de um milhar de vítimas mortais.
Nestes casos, para além das dotações orçamentais dos Estados atingidos, e da ajuda monetária internacional, os apelos à ajuda dos particulares são uma constante. E além dos pedidos em géneros feitos à generosidade e solidariedade dos particulares, nos últimos anos um novo meio de contribuir para minorar tais males têm sido os nºs telefónicos de valor acrescentado (indicativo 707)criados expressamente para tal fim.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

AS RAZÕES DE UM BLOGUE

Não sou uma figura pública nem aspiro a sê-lo. Durante algum tempo escrevi em jornais. Não em jornais de grande tiragem mas jornais locais ainda que alguns deles ostentassem o pomposo adjectivo de regionais que de facto nunca o foram.
Escrever é um bichinho, embora à medida que os anos passem a pachorra para o fazer seja cada vez menos. Afinal como diz um amigo meu, há muitos anos radicado em Nova Iorque, e também como eu, uma pessoa que gosta de escrever e o faz muito melhor do que eu, para um americano escritor é um sujeito que vive da escrita, coisa de que eu e ele nunca conseguimos viver. Daí que a pachorra para o fazer seja por vezes cada vez menor. E um outro amigo, que coordena um blogue de contos dizia-me recentemente que de de facto escrever não enche barriga, pelo que efectivamente não fosse o bichinho da escrita que muitos portugueses anónimos têm de nascença, e estes não escreveriam já que segundo a óptica norte-americana, não sendo pagos para isso nem sequer o deveriam fazer.
No entanto não é isso que se passa. Se no passado poucos portugueses, e falo da imprensa local, escreviam regularmente nos semanários e quinzenários das suas terras, hoje com a NET qualquer bicho-careta (perdoem-me a expressão) tem um blogue. Foi talvez essa a principal razão porque afastado há já alguns anos das minhas crónicas semanais na imprensa local de uma cidade do Norte, nunca me interessei por criar também eu, um - o meu blogue. Afinal se um jornal local pouca importância tem, que importância poderá ter o blogue de um dos milhões de cidadãos anóninos, que se eu quiser que alguém visite terei de divulgar pelos amigos, e que nunca será citado por ninguém, nem chegará ao conhecimento de ninguém? Afinal um jornal mesmo local tem assinantes, pontos de venda, pessoas que pagam para propositadamente receberem o dito em casa. Um blogue, se não é do Pacheco Pereira, do Vital ou de alguma outra figura pública com direito a tempo de antena e meia coluna num jornal de referência, só é encontrado na vastidão da NET por quem casualmente escorregue nele e lhe decida prestar atenção. Por isso para quê um blogue? Ou melhor, para quê MAIS um blog?
Precisamente por isso. Porque é mais um blogue de um cidadão anónimo, que provavelmente se cansará depressa de escrever nele - apesar do meu bichinho pela escrita, nunca consegui escrever regularmente nenhum diário nem nenhum romance - porque é mais um blogue tão anónimo como o seu mentor e ninguém irá por certo reparar nele , dar-lhe importância ou melindrar-se com ele. Sim melindrar-se, porque apesar de estarmos no ínicio da Quaresma, este se para tanto não me faltar engenho e arte pretende ser um espaço livre, satânico na acepção que lhe deu a geração dos Vencidos da Vida, imoral se o tiver que ser, reaccionário porque pretende reagir contra os conceitos dominantes na actual sociedade, anti-cristã, anti-dogmática, incómodo, pecaminoso e por aí fora.
Foi isto que me atraiu hoje quando clquei no botão CRIAR BLOGUE e saíu isto. Um espaço que ninguém conhece, feito por alguém que não se sabe quem é, e que sem pretender ofender, e muito menos catequizar ninguém, eu possa deitar as minhas diatribes cá para fora, sem a censura dos directores dos jornais, e por vezes as queixas de alguns leitores que se escandalizam com um ataque à Igreja ou ao Governo e ameaçam suspender a assinatura do jornal se o articulista mantém o teor da suas crónicas.
Aqui ao menos, se alguém me ler e se escandalizar tem bom remédio: não volte cá. O que escrever será o que me vai na alma e pouco me preocupa o que vai na alma dos outros. Afinal eu não sou escritor, o meu acto de escrever é um bichinho que não me enche a barriga que não vende nem me rende nada. O que é pena. Mas também não me obriga a fazer a vontade a ninguém, nem a obedecer a nenhuma linha editorial.