Não sou uma figura pública nem aspiro a sê-lo. Durante algum tempo escrevi em jornais. Não em jornais de grande tiragem mas jornais locais ainda que alguns deles ostentassem o pomposo adjectivo de regionais que de facto nunca o foram.
Escrever é um bichinho, embora à medida que os anos passem a pachorra para o fazer seja cada vez menos. Afinal como diz um amigo meu, há muitos anos radicado em Nova Iorque, e também como eu, uma pessoa que gosta de escrever e o faz muito melhor do que eu, para um americano escritor é um sujeito que vive da escrita, coisa de que eu e ele nunca conseguimos viver. Daí que a pachorra para o fazer seja por vezes cada vez menor. E um outro amigo, que coordena um blogue de contos dizia-me recentemente que de de facto escrever não enche barriga, pelo que efectivamente não fosse o bichinho da escrita que muitos portugueses anónimos têm de nascença, e estes não escreveriam já que segundo a óptica norte-americana, não sendo pagos para isso nem sequer o deveriam fazer.
No entanto não é isso que se passa. Se no passado poucos portugueses, e falo da imprensa local, escreviam regularmente nos semanários e quinzenários das suas terras, hoje com a NET qualquer bicho-careta (perdoem-me a expressão) tem um blogue. Foi talvez essa a principal razão porque afastado há já alguns anos das minhas crónicas semanais na imprensa local de uma cidade do Norte, nunca me interessei por criar também eu, um - o meu blogue. Afinal se um jornal local pouca importância tem, que importância poderá ter o blogue de um dos milhões de cidadãos anóninos, que se eu quiser que alguém visite terei de divulgar pelos amigos, e que nunca será citado por ninguém, nem chegará ao conhecimento de ninguém? Afinal um jornal mesmo local tem assinantes, pontos de venda, pessoas que pagam para propositadamente receberem o dito em casa. Um blogue, se não é do Pacheco Pereira, do Vital ou de alguma outra figura pública com direito a tempo de antena e meia coluna num jornal de referência, só é encontrado na vastidão da NET por quem casualmente escorregue nele e lhe decida prestar atenção. Por isso para quê um blogue? Ou melhor, para quê MAIS um blog?
Precisamente por isso. Porque é mais um blogue de um cidadão anónimo, que provavelmente se cansará depressa de escrever nele - apesar do meu bichinho pela escrita, nunca consegui escrever regularmente nenhum diário nem nenhum romance - porque é mais um blogue tão anónimo como o seu mentor e ninguém irá por certo reparar nele , dar-lhe importância ou melindrar-se com ele. Sim melindrar-se, porque apesar de estarmos no ínicio da Quaresma, este se para tanto não me faltar engenho e arte pretende ser um espaço livre, satânico na acepção que lhe deu a geração dos Vencidos da Vida, imoral se o tiver que ser, reaccionário porque pretende reagir contra os conceitos dominantes na actual sociedade, anti-cristã, anti-dogmática, incómodo, pecaminoso e por aí fora.
Foi isto que me atraiu hoje quando clquei no botão CRIAR BLOGUE e saíu isto. Um espaço que ninguém conhece, feito por alguém que não se sabe quem é, e que sem pretender ofender, e muito menos catequizar ninguém, eu possa deitar as minhas diatribes cá para fora, sem a censura dos directores dos jornais, e por vezes as queixas de alguns leitores que se escandalizam com um ataque à Igreja ou ao Governo e ameaçam suspender a assinatura do jornal se o articulista mantém o teor da suas crónicas.
Aqui ao menos, se alguém me ler e se escandalizar tem bom remédio: não volte cá. O que escrever será o que me vai na alma e pouco me preocupa o que vai na alma dos outros. Afinal eu não sou escritor, o meu acto de escrever é um bichinho que não me enche a barriga que não vende nem me rende nada. O que é pena. Mas também não me obriga a fazer a vontade a ninguém, nem a obedecer a nenhuma linha editorial.
sábado, 20 de fevereiro de 2010
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